Um dos elementos mais importantes da antiquíssima arte de expressar opiniões vagamente fundamentadas sobre filmes (de forma profissional ou amadora) será a capacidade de identificar elementos inspiradores e fingir que se conheciam muito bem e há muito tempo. "Red" é a adaptação de uma banda desenhada fabulosa de que não sei nada além do que descobri vendo o filme. (Um dos elementos menos recomendáveis da antiquíssima arte... etc, etc... é a sinceridade.) Mesmo sem nunca ter lido o material de origem, parece-me bastante positivo que se recrutem Bruce Willis, Morgan Freeman, John Malkovich e Helen Mirren para passarem quase duas horas aos tiros e a fazer explodir coisas. Que o façam na pele de agentes da CIA reformados com a cabeça a prémio, também pode ser.
Classificação:
De: Robert Schwentke
Com: Bruce Willis, Mary-Louise Parker, John Malkovich
Independentemente dos pergaminhos que acompanhem o realizador chileno Raúl Ruiz, Mistérios de Lisboa é um filme que vê as suas qualidades mutiladas por erros medonhos. A realização é muito cuidada, a estrutura narrativa é cativante (ou tenta sê-lo, não conseguindo totalmente por ser difícil evitar que um filme com mais de quatro horas acabe por cansar) e a recriação de época convence quase sempre. Mas os erros estão lá e vão-nos roendo a paciência ao longo de quase trezentos minutos até ficarmos prontos para gritar. Há os erros nos diálogos. Intermináveis e gritantes pontapés na gramática e falhas na construção de frases, não se percebendo se estavam no texto ou se são culpa dos actores, sem que ninguém os tenha corrigido. E há os actores, claro. Adriano Luz consegue adequar-se no papel de Padre Dinis, mas a maioria dos seus colegas de elenco nem à martelada se adequaria aos papéis respectivos. Maria João Bastos é, no seu melhor, sofrível. Albano Jerónimo começa medíocre e termina como caricatura bidimensional. Ricardo Pereira... Bom, estamos a falar de Ricardo Pereira, alguém cujo principal talento parece ser a promoção dos cuidados dentários pela ostentação constante de uma dentição perfeita. Não a vemos muito no filme porque o encarregaram de dar corpo a um rufia rústico, que arrota de frase em frase e acaba por se transformar num vilão arrependido durão e de cicatriz na face. É tão miseravelmente ridículo como parece. Tão ridículo como Carloto Cotta de peruca e casaca a fazer de senhor setecentista com pronúncia da Brandoa. Ou como Sofia Aparício de dama espartilhada e propensa a desmaios. Ou como vários outros actores nacionais de desempenho doloroso, mais doloroso se tornando quando confrontado com os momentos protagonizados por actores franceses. Talvez os defeitos de Mistérios de Lisboa se expliquem por termos um realizador a fazer um filme numa língua que não é a sua, confrontado com actores escolhidos numa realidade que não conhece. Mas fica a mágoa pelo filme quepoderia ter sido.
Classificação:
De: Raúl Ruiz
Com: Adriano Luz, Maria João Bastos, Ricardo Pereira