13.7.09

Brüno


O principal receio de quem tenha gostado de Borat (presumindo-se que, quem não gostou, nem sequer pensará em ver o novo esforço de Sacha Baron Cohen) seria que Brüno não passasse de uma repetição forçada da mesma fórmula, apenas para fazer render o peixe e sem o enorme valor da epopeia por terras americanas do jornalista mais célebre do Cazaquistão. Não é o caso. A fórmula mantém-se, realmente, e a abordagem é a mesma partilhada pelas três personagens de Cohen: colocar individualidades e gente comum perante elementos suficientemente distantes da sua realidade para que lhes seja concedido o benefício da dúvida (um cazaque de hábitos duvidosos, um especialista em moda de comportamento inacreditável, um pseudo-rapper com clara deficiência mental) e conseguir levá-los a dizer o que pensam e nunca ousaram dizer e a fazer o que lhes é mais natural mas que sempre tentam conter, tudo através de um método que parece inspirado pelos programas de câmara escondida, mas elevado a forma de arte e com a câmara perfeitamente visível. Neste sentido, Brüno e Borat são iguais, levando em conta as singularidades de cada uma das personagens. Mas também é inegável que, nos dois filmes, o desempenho de Cohen é tão brilhante (e assustador) que nos vai deixando maravilhados, boquiabertos e incrédulos, quando não estamos demasiado tomados por um riso incontrolável para formular alguma destas reacções. Por mais agradável que seja o resultado, fica um travo amargo. Tendo já anunciado que não voltaria a interpretar Borat e Ali G (ironicamente, a personagem que o tornou famoso foi a que teve direito a menos sucesso cinematográfico, possivelmente pela abordagem narrativa em detrimento da fórmula original) e esperando-se que o mesmo suceda com Brüno, porque a visibilidade anula utilizações subsequentes, tudo indica que esta forma de terrorismo cinematográfico desenvolvida por Cohen fique por aqui. A não ser que surja uma quarta personagem igualmente eficaz e que lhe permita esconder uma cara cada vez mais reconhecível. Se isso acontecer, Sacha Baron Cohen acabará por morrer inevitavelmente de forma violenta, tal é o afinco com que se coloca em situações que vão do embaraço extremo ao perigo muito real. Mas ficar-lhe-emos eternamente gratos pelo sacrifício.

Classificação: http://inepcia.com/cinemateca/olho5b.gif

Brüno

De: Larry Charles

Com: Sacha Baron Cohen, Gustaf Hammarsten

Origem: http://inepcia.com/cinemateca/us.gif

Ano: 2009

Trailer

1 comentário:

arrssousa. disse...

Deixa lá, que a cinemateca deu cabo de mim também.

 

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