31.1.09

Second Life


Ver Second Life é uma experiência quase indescritível. Mesmo assim, urge fazer uma tentativa e o melhor será recorrer a uma série de analogias cuidadas. Imaginem então que estão a ver o último filme de Alexandre Valente (último apenas cronologicamente e não necessariamente o último que produzirá na vida, com grande pena) na Faixa de Gaza durante um bombardeamento israelita. Por exemplo, num multiplex em que todas as outras salas passam Corão, o Filme, em versões com e sem fundamentalismo. Caem mísseis lá fora e as explosões fazem estremecer o edifício e levantam nuvens de pó que preenchem o espaço como uma névoa irrespirável. Mas não é tudo. Quando se sentam, descobrem que o jardim zoológico local resolveu usar o cinema como abrigo para os animais e que, atrás da vossa cadeira, estão instalados três jaguares famintos e nervosos, acorrentados com folga suficiente para lhes permitir morder e arranhar-vos a nuca. O melhor seria mudarem de lugar, mas alguém barrou o assento com cola acrílica como brincadeira de mau gosto. Reparam ainda que a fila da frente está inteiramente ocupada por zombies desesperados por miolos frescos e, a qualquer momento, poderão ultrapassar a rigidez cadavérica e voltar a cabeça para trás. Alguém ao fundo da sala morre de ébola (com tempo para dizer "ai que estou a morrer de ébola" em português corrente antes de tombar fulminado), deixando cair sobre os estofos o charuto malcheiroso que fumava e ateando um incêndio.

É neste momento que o filme começa. E, dez minutos depois, percebem que o que está no ecrã é mil vezes mais desagradável do que tudo o que vos rodeia. Porquê? Para começar, quase não há sinais da história prometida na campanha promocional (Nicholas, um homem de nacionalidade indefinida acaba de morrer e reflecte como narrador sobre o rumo que teria levado a sua vida se tivesse optado por outro caminho num momento fulcral). Em vez de enredo, existem apenas lampejos esporádicos de uma direcção vaga em que o filme pretende cambalear, sem nunca conseguir. A realização é anedótica. Os realizadores fazem questão de aplicar todos os truques do manual nos momentos menos adequados e com a menor eficácia possível, como uma criança que brinca com uma caixa de ritmos. Um tamborzinho ali, um clarinete acolá, uma sequência de baile com lasers e luzes estroboscópicas, enriquecida com toques sinistros ao piano e máscaras venezianas dignas de um Kubrick à portuguesa. As originais opções de montagem conseguem a proeza de tornar quase incompreensível uma história que parece ter sido criada do princípio ao fim durante visita do argumentista à retrete (visita que nem precisou de ser particularmente demorada), com a colagem tosca de cenas das duas vidas alternativas do protagonista sem qualquer preocupação em conseguir uma transição fluida (num plano, Nicholas inala um pó branco suspeito da barriga activista de Sandra Cóias e, no seguinte, discute vinhos com Nicolau Breyner, pai cego da sua namorada italiana alternativa, uma espécie de Don Corleone com atraso mental severo).

Os diálogos não seriam mais ridículos se tivesse sido permitido a Luís Figo (com a sua estreia mundial no cinema) escrevê-los. Aliás, até prova em contrário, nada garante que não tenha sido precisamente isso a acontecer. E as personagens não existem, sendo substituídas por um bestiário de actores reles e apresentadores de televisão vestidos com fatiotas inusitadas: Paulo Pires como toureiro, Pêpê Rapazote como GNR, José Carlos Malato como inspector, Liliana Santos como badalhoca, Fátima Lopes como Fátima Lopes (umas mais inusitadas do que outras). Depois de uns setenta minutos de filme, parece haver uma tentativa de rematar com um final surpreendente, mas não se percebe muito bem se assim é porque a câmara não pára de girar em torno dos actores nas cenas cruciais e é difícil tecer considerações críticas quando se tenta conter o enjoo. Nada se aproveita então? Não é bem assim. Há Ruy de Carvalho a interpretar um clone de Karl Lagerfeld. Há Cláudia Vieira a tentar representar em italiano (sim, aparece em roupa interior e até sem ela; descansem os fãs dos seus dotes dramáticos alimentados a silicone). E há a mancha no ecrã, possivelmente de refrigerante, que fazia lembrar um bando de gansos quando olhada de certo ângulo. Se o ecrã do vosso cinema não tiver a referida mancha, lamento muito.

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Second Life

De: Miguel Gaudêncio, Alexandre Valente

Com: Piotr Adamczyk, Lúcia Moniz, Paulo Pires

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Ano: 2009

Robert Rodriguez prepara remake de Predador?


Por enquanto, não passa de um rumor, mas o nome do realizador texano de El Mariachi, From Dusk Till Dawn e Sin City foi referido há algum tempo como estando envolvido num terceiro capítulo da série iniciada na selva centro-americana em 1987 por Schwarzenegger e companhia e continuada em 1990 por Danny Glover no labirinto de betão de Los Angeles. Agora, fala-se num remake do filme original. Tendo em conta os antecedentes de Robert Rodriguez e ignorando os disparates recentes em que o predador alienígena tem sido explorado, será que poderemos esperar o melhor ou, como tão bem disse uma personagem secundária da saga, "shit happens"?

30.1.09

4 elementos: Filmes de temática gay



Filadélfia


(Philadelphia)

1993

De: Jonatham Demme

Com: Tom Hanks, Denzel Washington, Antonio Banderas

Recomendado a: quem gostaria de conhecer o momento na carreira de Tom Hanks em que o jovial actor cómico se transformou num cabeçudo que se leva demasiado a sério.



As Aventuras de Priscilla, Rainha do Deserto


(The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert)

1994

De: Stephan Elliot

Com: Hugo Weaving, Guy Pearce, Terence Stamp

Recomendado a: quem quiser perder o respeito a Elrond e ao Agente Smith.



Os Rapazes Não Choram


(Boys Don't Cry)

1999

De: Kimberly Peirce

Com: Hillary Swank, Chloë Sevigny, Peter Sarsgaard

Recomendado a: rapazes e raparigas que enchumaçam as calças e a quem não se importar de nunca mais conseguir olhar para Hillary Swank sem alguma estranheza.



Brokeback Mountain


2005

De: Ang Lee

Com: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Randy Quaid

Recomendado a: quem já tiver sentido um calorzinho especial ao ver um western com John Wayne.

29.1.09

Aslan ressuscitado por uma raposa


Descansem os fãs do felino messiânico mais popular deles todos (Quantos existem, afinal?). Depois de a Disney descartar a adaptação dos livros de C.S. Lewis por desequilíbrio na balança entre custos e receitas, a FOX decidiu levantar o estandarte de Nárnia da lama e já se trabalha num guião para o próximo filme da série: The Voyage of the Dawn Treader. O elenco regressa, enriquecido com Will Poulter (Filho de Rambow), enquanto Andrew Adamson, realizador dos dois primeiros capítulos, será substituído por Michael Apted (The World is Not Enough e alguns episódios de Roma).

28.1.09

Revolutionary Road


Conhecem aqueles casais cujo único propósito no mundo parece ser aproveitar qualquer coisa para iniciar uma discussão? Ao ponto de quem os rodeia deixar de perceber por que raio continuam juntos? São assim os Wheelers, jovem casal residente na pacata Revolutionary Road, rua de nome paradoxal onde nada parece passar-se. Mas nem sempre foram assim Frank e April Wheeler. Anos antes de serem um casal acomodado, com dois filhos, uma bonita casa de subúrbio a cargo da esposa, enquanto o marido se ocupa com o monótono emprego na firma onde trabalhou o seu pai, os Wheelers tinham aspirações e ambições. Iguais às ambições de Kate Winslet de ganhar um Óscar (que talvez ganhe este ano, mas não por este filme, ainda que fosse inteiramente merecido e sendo injusto não ser sequer nomeada). Ou às aspirações de consagração de Leonardo DiCaprio (que merece reconhecimento pela sucessão de grandes papéis dos últimos anos, ainda que os prémios pareçam passar-lhe sempre ao lado). Apesar da brevidade da sua presença no ecrã, Michael Shannon é outro grande desempenho num excelente filme do quase português Sam Mendes (leia-se "Mêndéss") sobre sonhos adiados, projectos abandonados e expectativas goradas. Coisas que a vida faz acontecer de forma inevitável na vida dos outros. Mas não na nossa. Claro.

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Revolutionary Road

De: Sam Mendes

Com: Kate Winslet, Leonardo DiCaprio, Michael Shannon

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Ano: 2008

Estreias da Semana

Sean Penn atira-se ao Óscar, Kate Winslet passa-lhe ao lado, terrorismo alemão de esquerda, o holocausto pelos olhos das crianças, as atribulações de uma duquesa e uma produção portuguesa que combina no elenco Luís Figo, Fátima Lopes, José Carlos Malato e Nicolau Breyner. Ena.

Milk


Vivemos numa sociedade suficientemente esclarecida para que uma pessoa heterossexual possa opinar sobre um filme como Milk sem comentários maldosos. Mas, porque o seguro morreu de velho, queria deixar claro que nunca comprei um disco de Barbra Streisand, não conseguiria dançar mesmo que a minha vida dependesse disso e, apesar de reconhecer a Simone de Oliveira o seu lugar na história da música portuguesa, estou longe de a ver como modelo de vida. Feita a ressalva (Brokeback Mountain é um filme do caraças), o último trabalho de Gus Van Sant retrata a vida de Harvey Milk, primeiro homossexual assumido eleito para um cargo público nos Estados Unidos, com competência e no tom certo, ainda que lhe falte alguma coisa. Depois de duas horas (e picos) de filme, fica-se com a sensação de que, com uma personagem central tão emblemática, Milk poderia ser menos seco, contornando a preocupação biográfica e aplicando um pouco mais do arrebatamento emocional que a figura real que lhe serviu de inspiração mereceria. Sean Penn continua empenhado na especialização em papéis de caracterização extrema que poderá ser vista como fome de Óscares (salva-o ter talento para tal) e Emile Hirsch corre o risco de a cabeça lhe explodir se fizer uma terceira personagem igualmente irritante depois de Into the Wild e do seu papel neste filme (estou a esquecer Speed Racer por bondade). Foi o que aconteceu a Renée Zellweger depois de Jerry Maguire, Bridget Jones e Cold Mountain. Mas a cirurgia plástica resolve tudo hoje em dia. Até um crânio estilhaçado.

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Milk

De: Gus Van Sant

Com: Sean Penn, Josh Brolin, Emile Hirsch

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Ano: 2008

A Duquesa


No final do século XVIII, uma jovem bela, inteligente e promissora, com encanto interminável e sensibilidade para vender às postas é casada em tenra idade com um aristocrata influente. A relação não tarda a azedar quando a jovem percebe que há muito pouco sentimento no matrimónio e que o seu marido frio e distante a vê como pouco mais do que uma peça de mobiliário com a peculiaridade de produzir herdeiros. É desta premissa que parte A Duquesa. Poderá haver quem ache isto familiar e terá razões para isso. A mesma história é comum a muitas duquesas, condessas e marquesas e já a vimos muitas vezes em várias épocas e formatos. Por exemplo, no recente Maria Antonieta de Sofia Coppola, que é basicamente o mesmo filme, mas com melhor banda sonora, mais planos de pastelaria e um final ligeiramente menos positivo. Por falar em pastelaria, pode usar-se a nobre arte do bolo para estabelecer um paralelo entre um filme e o outro (nenhum deles particularmente arrebatador e inspirado, mas não sendo de modo algum maus filmes). Se Maria Antonieta era um croissant algo seco recheado com creme de ovos, A Duquesa será um croissant igualmente seco mas com fiambre e queijo. A apreciação mais positiva de um ou do outro ficará ao gosto de cada um. Passando da pastelaria à padaria, Keira Knightley pode ser um pãozinho sem sal, mas fica muito vistosa dentro de um corpete.

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The Duchess

De: Saul Dibb

Com: Keira Knightley, Ralph Fiennes, Hayley Atwell

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Ano: 2008

27.1.09

The Damned United

Se isto for tão bom como parece, prometo escrever uma carta ao Michael Sheen, pedindo desculpa por lhe chamar "coelho arrepiado" no comentário ao Frost/Nixon.


Tintin de Spielberg já tem elenco


Há muito que se falava na adaptação de Tintin ao cinema pela batuta milionária e nem sempre acertada de Steven Spielberg. Agora, passamos a ter uma lista de actores para aliar à esperança de que The Adventures of Tintin: Secret of the Unicorn não seja uma desilusão tão grande como o último Indiana Jones (espera-se sinceramente que seja o último!). Com estreia marcada para 2011, o filme elaborado com recurso à tecnologia de captação de movimentos tridimensional terá Jamie Bell (Billy Elliot) no papel do jovem repórter belga e Daniel Craig como Red Rackham, o pirata (os dois contracenaram recentemente em Defiance). Os irmãos Dupond e Dupont (Thomson e Thompson na versão inglesa da banda desenhada) serão interpretados por Simon Pegg e Nick Frost (trabalharam juntos em Shaun of the Dead e Hot Fuzz por exemplo) e Andy "Gollum" Serkis será o irascível Capitão Haddock. A animação estará a cabo da Weta Digital de Peter Jackson, um dos produtores (o que é bom) e o realizador neozelandês terá manifestado interesse em realizar uma eventual continuação (idem).

Slumdog billionaire?

POR QUE #%&£@ É QUE O TÍTULO PORTUGUÊS DE SLUMDOG MILLIONAIRE SERÁ QUEM QUER SER BILIONÁRIO? Será que há gente assim tão desesperada para ser criativa à custa de terceiros?

Aceitam-se respostas, teorias e tisanas calmantes.

26.1.09

Poster de Prince of Persia enfiado em Confessions of a Shopaholic


Num golpe de "génio", o produtor Jerry Bruckheimer decidiu usar uma das suas produções para promover outra. Assim, quem vir Confessions of a Shopaholic, adaptação de dois romances cor-de-rosa capazes de fazer as fãs mais devotas de Sexo e a Cidade pensar "hmm... isto talvez seja demasiado gaja" com estreia marcada para 2009, terá de dividir a sala com um inesperado grupo de cromos dos videojogos, cronometrando o tempo até à cena em que será visível na fachada de um edifício da Times Square o poster de Prince of Persia: The Sands of Time em estreia mundial. Será provável que saiam logo depois deste ansiado primeiro vislumbre para não se deixarem contagiar por uma vontade irreprimível de comprar sapatos, mas o bilhete estará comprado e todos ficarão felizes. Realizado por Mike Newell (4 Casamentos e Um Funeral, Harry Potter e o Cálice de Fogo), Prince of Persia terá no elenco Jake Gyllenhall, Ben Kingsley e Alfred Molina e poderá tornar-se a primeira adaptação ao cinema de um videojogo a não cheirar a peido.

22.1.09

Nomeações para os Óscares (acabadas de anunciar)

Poucas surpresas relativamente às nomeações para os Globos de Ouro. Kate Winslet nomeada apenas como actriz principal por The Reader, Heath Ledger nomeado novamente para melhor actor secundário e Slumdog Millionaire bem posicionado para repetir o êxito dos Globos, mesmo com as muitas nomeações de The Curious Case of Benjamin Button (que não conquistou qualquer galardão nos prémios atribuídos pela imprensa estrangeira de Hollywood). Fica a lista de nomeados para as categorias mais apetitosas.


Melhor Filme


The Curious Case of Benjamin Button

Frost/Nixon

Milk

The Reader


Slumdog Millionaire


Melhor Realizador


Danny Boyle (Slumdog Millionaire)

Stephen Daldry (The Reader)

David Fincher (The Curious Case of Benjamin Button)

Ron Howard (Frost/Nixon)

Gus Van Sant (Milk)


Melhor Actor


Richard Jenkins (The Visitor)

Frank Langella (Frost/Nixon)

Sean Penn (Milk)

Brad Pitt (The Curious Case of Benjamin Button)

Mickey Rourke (The Wrestler)


Melhor Actriz


Anne Hathaway (Rachel Getting Married)

Angelina Jolie (Changeling)

Melissa Leo (Frozen River)

Meryl Streep (Doubt)

Kate Winslet (The Reader)


Melhor Actor Secundário


Josh Brolin (Milk)

Robert Downey Jr. (Tropic Thunder)

Philip Seymour Hoffman (Doubt)

Heath Ledger (The Dark Knight)

Michael Shannon (Revolutionary Road)


Melhor Actriz Secundária


Amy Adams (Doubt)

Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona)

Viola Davis (Doubt)

Taraji P. Henson (The Curious Case of Benjamin Button)

Marisa Tomei (The Wrestler)


Melhor Filme Estrangeiro


Der Baader Meinhof Komplex (Alemanha)

Entre les Murs (França)

Revanche (Áustria)

Okuribito (Japão)

Vals Im Bashir (Israel)


Melhor Longa-Metragem de Animação


Bolt

Kung Fu Panda

Wall-E


Melhor Argumento Original


Frozen River

Happy-Go-Lucky

In Bruges

Milk

Wall-E


Melhor Argumento Adaptado


The Curious Case of Benjamin Button

Doubt

Frost/Nixon

The Reader

Slumdog Millionaire


Melhor Canção Original

"Jai Ho" (Slumdog Millionaire)

"O Saya" (Slumdog Millionaire)

"Down to Earth" (Wall-E)


Melhor Banda Sonora

The Curious Case of Benjamin Button

Defiance

Milk

Slumdog Millionaire

Wall-E

Grandes filmes que nunca vimos: Walk Hard - The Dewey Cox Story (2007)

21.1.09

Estreias da Semana

Começam a estrear os pesos-pesados. Woody Allen, Ron Howard, Daniel Craig como resistente judeu, actores portugueses em Esta Noite e uma chinesice histórica com Jet Li.

Vicky Cristina Barcelona


A velhice não foi bondosa para Woody Allen. Por muito que custe admitir a quem continua a considerá-lo um dos grandes cineastas de sempre. Há quem antecipe a decadência, mas creio que será mais adequado colá-la a Anything Else, o seu primeiro filme que provoca desconforto físico aos admiradores que tentem suportar a penosa experiência do visionamento. Um filme de tal forma mau que consegue embaraçar Jason Biggs. E isto tem muito que se lhe diga porque estamos a falar de um actor imortalizado por ter praticado o coito com uma tarte em American Pie. Anything Else é também o primeiro sintoma do senil enlevo por meninas (o primeiro sintoma cinematográfico, pelo menos), com Christina Ricci a conseguir fazer a única coisa que parece não ter esquecido (ser irritante) depois de um início de carreira tão promissor. Seguiu-se o igualmente inenarrável Melinda and Melinda e, quando as esperanças começavam a estar perdidas, Allen brinda-nos com o excelente Match Point, provocando a confusão generalizada. Afinal restava ou não alguma coisa do genial realizador? A julgar por Scoop, não. Mas Cassandra's Dream parecia sugerir superficialmente que sim. Agora chega a vez de Vicky Cristina Barcelona e chegámos a um ponto em que se torna difícil perceber qual a intenção. Quererá fazer uma caricatura de si próprio? Ou, melhor ainda, a caricatura de alguém que caricatura alguém a caricaturá-lo enquanto o próprio também se caricatura em triplicado? (NOTA: A segunda leitura da frase anterior pode provocar danos cerebrais.) Além de paisagens sublimes do país vizinho, a última "obra" de Woody Allen contém os seguintes elementos:

-banalidades várias
-lugares-comuns psico-amorosos
-diálogos demasiado sérios para considerar irónicos e demasiado ridículos para levar a sério
-excelentes desempenhos de Javier Bardem, Penélope Cruz e Rebecca Hall, que tornam o filme suportável
-uma cada vez mais obnóxia Scarlett Johansson, provando sem cessar que é a actriz mais sobrevalorizada da actualidade e que, a não ser que o papel não lhe exija grande coisa em termos de representação, boquinhas sensuais, olhares lânguidos e meneios de ancas não bastam.

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Vicky Cristina Barcelona

De: Woody Allen

Com: Scarlett Johansson, Penélope Cruz, Javier Bardem

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Ano: 2008

Frost/Nixon


Mesmo depois de oito anos de George W. Bush, nenhum presidente consegue reunir tamanha estima dos americanos como Richard Nixon. O facto de ter renunciado à presidência há mais de trinta anos e de ter morrido há quinze não faz grande coisa para alterar esse facto. Talvez depois de Obama exibir a Casa Branca no programa Cribs da MTV alguma coisa mude. Até lá duvido. Em 1977, depois da renúncia ao mandato motivada pelo escândalo de Watergate, um apresentador televisivo britânico, playboy em part-time, David Frost, decide convidar Nixon para uma entrevista, que este aceita prontamente, vendo a inexperiência política do entrevistador como oportunidade para limpar o nome em horário nobre. Não lhe correu bem. Frost/Nixon, adaptação da peça do mesmo nome sobre esse momento bizarro da história televisiva internacional, corre bastante melhor. Ron Howard, tarefeiro dos grandes estúdios e menino comportado desde os tempos em que integrava o elenco da série Happy Days, lá vai conseguindo fazer filmes adequados, mas sem rasgos de um brilhantismo que dificilmente existirá. Frank Langella merece pelo menos uma nomeação da Academia (já que não ganhou nada por ter feito de Skeletor no saudoso Masters of the Universe de 1987) e Michael Sheen, com a sua cara de coelho arrepiado, está a caminho de uma carreira alicerçada em recriações de personagens reais contemporâneas depois de se mascarar de Tony Blair em The Queen.

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Frost/Nixon

De: Ron Howard

Com: Frank Langella, Michael Sheen, Kevin Bacon

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Ano: 2008

Resistentes


E se Rambo fosse judeu e vivesse no território da actual Bielo-Rússia sob ocupação nazi? E se, além disso, tivesse família? Não só dois irmãos e um punhado de primos, mas uns mil parentes próximos e afastados, incluindo aqueles tipos esquisitos que ninguém sabe muito bem quem são ou que parentesco têm, mas que aparecem sempre nos casamentos e enfiam rissóis e croquetes no bolso para consumo posterior. É mais ou menos assim este Resistentes. Só que com James Bond em vez de Rambo. A história é vendida como sendo verídica, partindo da resistência épica de um grupo de judeus liderados pelos irmãos Bielski, que decidiram refugiar-se nas florestas densas da região, pegando em armas para dar aos alemães uma colherada da sua própria receita. A narrativa é sempre muito contida, sem quaisquer ambições de grandiosidade, e, sendo verdade que as tentativas frustradas para contar histórias banais de forma épica incomodam bastante, os subaproveitamentos de premissas muito interessantes para produzir filmes da categoria "não aquece nem arrefece" não são menos incómodos.

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Defiance

De: Edward Zwick

Com: Daniel Craig, Liev Schreiber, Jamie Bell

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Ano: 2008

20.1.09

Black Dynamite

Dominic Monaghan refere regresso de Merry em The Hobbit


O actor inglês, que interpretou o hobbit Merry na trilogia O Senhor dos Anéis, confundiu o mundo ao confessar em entrevista à MTV durante o Festival de Sundance que espera regressar à Terra Média nos dois filmes da adaptação ao cinema de The Hobbit, obra de JRR Tolkien que primeiro familiarizou o mundo com o conceito de anões pezudos, que andam descalços e gostam de coleccionar anéis mágicos. Se Monaghan estava sóbrio, isto deixará muitos devotos de Tolkien (sim, vocês sabem quem são) nervosos pois, de acordo com o livro, Frodo Baggins e os seus companheiros do Shire só nasceriam muito depois do regresso de Bilbo Baggins da sua aventura. Restará esperar para ver. Os dois filmes da adaptação serão produzidos por Peter Jackson, realizados por Guillermo del Toro e estrearão em 2011 e 2012.

19.1.09

Wolverine em pessoa garante que X-Men Origins: Wolverine continua nos eixos


Perante alguma incerteza criada nos fãs por notícias de que haveria cenas a serem filmadas numa altura em que os trabalhos deveriam estar já concluídos, Hugh Jackman, protagonista e produtor do próximo filme da série X-Men, enviou uma mensagem ao site Ain't It Cool News, explicando que problemas meteorológicos e incompatibilidades de calendário dos actores envolvidos impossibilitaram que as cenas em questão fossem filmadas anteriormente. Jackman manifestou ainda a sua convicção de que o filme será "badass" e irá de encontro às expectativas. Em jeito de brinde, a mensagem vinha acompanhada por uma nova fotografia do elenco, representando Wolverine e algumas das apetecíveis transposições para o ecrã de personagens da banda desenhada original. A saber (da esquerda para a direita): Deadpool, Gambit, Wolverine, Sabretooth e Silver Fox. A estreia mundial está marcada para 30 de Abril na Austrália e Nova Zelândia.

18.1.09

Cara e coroa - Personagens reais e seus intérpretes no grande ecrã



Em Valquíria, filme quase a estrear entre nós, Tom Cruise interpreta o Conde Von Stauffenberg, oficial alemão envolvido numa conspiração falhada para assassinar Hitler. Com um pouco de imaginação, será possível ver alguma semelhança física entre o actor e a figura real que tenta recriar, mas, mesmo sem essa imaginação, o aspecto dos dois não será, pelo menos, completamente antagónico. O mesmo não se poderá dizer de outras recriações anteriores. Segue abaixo uma lista breve que inclui de tudo, desde os sósias quase perfeitos (com melhor ou menor auxílio de maquilhagem e prostéticos) aos casos de "ó meu Deus, em que estariam eles a pensar?".



Carl Bernstein e Bob Woodward / Dustin Hoffman e Robert Redford (All the President's Men - 1976)



Muhammad Ali / Will Smith (Ali - 2001)



Howard Hughes / Leonardo DiCaprio (The Aviator - 2004)



Dian Fossey / Sigourney Weaver (Gorillas in the Mist - 1988)



Sid Vicious / Gary Oldman (Sid and Nancy - 1986)



Ritchie Valens / Lou Diamond Phillips (La Bamba - 1987)



Edith Piaf / Marion Cotillard (La Vie en Rose - 2007)



Karen Blixen / Meryl Streep (Out of Africa - 1985)



Virginia Woolf / Nicole Kidman (The Hours - 2002)



Richard Nixon / Anthony Hopkins e Frank Langella (Nixon - 1995, Frost/Nixon - 2008)



Malcolm X / Denzel Washington (Malcolm X - 1992)



Eva Perón / Madonna (Evita - 1996)



"Raoul Duke" (Hunter S. Thompson) / Johnny Depp (Fear and Loathing in Las Vegas - 1998)



Adolf Hitler / Bruno Ganz (Der Untergang - 2004)
 

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