10.3.13

A Caça

Violento murro no estômago de Thomas Vinterberg sobre um outro lado dos "escândalos" de abusos sexuais de menores, com Mads Mikkelsen num desempenho astronómico. O facto de ser exibido em apenas duas salas no país inteiro (uma em Lisboa, outra no Porto) é demasiado cruel para um dos melhores filmes do ano (mesmo com os nove meses que faltam).

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19.2.13

Bestas do Sul Selvagem

Surpreende pela forma hábil como consegue tocar as cordas certas, sobretudo por se tratar do primeiro filme do realizador Benh Zeitlin e por contar com desempenhos de atores igualmente estreantes. Mas é difícil encontrar ali algo mais do que talento para trabalhar a forma, com o conteúdo sendo remetido para segundo plano. Por baixo da carapaça sentimental erigida com perfeito conhecimento e descontando uma mensagem ecologista demasiado superficial para ser levada a sério, veem-se os créditos rolar com uma sensação vagamente desagradável de que, desde o primeiro momento, nunca houve grande substância. O onirismo é um artifício válido, mas quando se usa para cobrir falhas, torna-se desonesto.

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16.2.13

Hitchcock

Triste sina a de quem tenta retratar um dos maiores realizadores de sempre e apenas consegue um filme de que se poderá dizer com justiça que não envergonha ninguém e se vê sem amarguras. Anthony Hopkins faz boa figura, ajudado pela maquilhagem, mas sem deixar que a maior parte do mérito seja prostético, e Scarlett Johansson é o arraial de boquinhas e carinhas do costume, tão inócuo como quase sempre. Retratando a produção algo atribulada de Psico, o maior resultado do filme de Sacha Gervasi é dar vontade de ir a correr ver o original. E isso valerá alguma coisa.

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11.2.13

O "Mentor"


Este filme não é sobre a cientologia e a personagem de Philip Seymour Hoffman não pretende ser o seu fundador, L. Ron Hubbard. Quem entender discordar da afirmação anterior, arrisca-se a merecer o processo judicial multimilionário a que Paul Thomas Anderson escapou de forma algo milagrosa e, possivelmente, depois de exercer enorme tato junto das altas individualidades hollywoodeiras que pertencem à Igreja. Hoffman e Phoenix partilham entre si a maior parte da responsabilidade de honrar o argumento e a realização de Anderson (e fazem-no muito bem) e Amy Adams volta a revelar a versatilidade discreta a que poucos darão crédito, talvez por acharem difícil levar a sério quem já foi uma princesa da Disney (mesmo nos moldes muito peculiares de Enchanted). Os distribuidores portugueses terão tido motivos fortes para não se limitarem a traduzir o único substantivo do título original, perdendo assim os múltiplos sentidos tanto da palavra "master" como de "mestre", mas não se percebe quais possam ter sido.

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1.2.13

Lincoln


Confirmação de algumas coisas que já se sabiam. Por um lado, que Daniel Day-Lewis é o melhor ator vivo do mundo cinematográfico anglo-saxónico, sendo amplamente merecedor de qualquer prémio que entendam atirar-lhe para cima, mas sem precisar realmente de ainda mais reconhecimento para justificar o estatuto que ninguém lhe tira. Por outro, que Steven Spielberg é um realizador versátil e capaz de usar tudo o que foi acumulando numa longa e quase sempre meritória carreira para construir filmes competentes em qualquer género. Muitas cenas de interior, pouca vontade de atingir um tom épico patriótico e uma opção que se saúda por retratar um momento específico na vida da personagem principal sem fazer um biopic do nascimento à morte.

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25.1.13

Django Libertado

Quentin Tarantino queria dar aos negros americanos um herói que lhes vingasse a escravatura com os contornos sangrentos que séculos de crueldade desumana justificavam. Mesmo que precisasse de inventar um. Queria também continuar a teorizar sobre a vingança e fazer um western spaghetti moderno. Se conseguiu atingir o primeiro objetivo e se o seu herói foi aceite pelos destinatários, perceber-se-á com o tempo. O segundo e o terceiro objetivos foram atingidos em cheio. Há menos momentos rocambolescos do que em filmes anteriores, mas não ao ponto de tornar Django irreconhecível como "filho" de seu "pai". Elenco perfeito, alguns cameos saborosos e outra vez aquele talento especial para gerir os atores e arrancar-lhes desempenhos contidos e convincentes mesmo quando tudo em redor é completa e saborosamente desvairado.

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Seis Sessões

O tema tornava muito difícil escapar à lamechice e o maior mérito do filme será esse. Não estando completamente ausente (talvez fosse impossível), o sentimentalismo é roçado de forma suficientemente ligeira para não causar grande incómodo a quem for mais sensível ao apelo à lágrima. John Hawkes sublinha o que já vinha sugerindo há alguns anos: que é um ator a seguir com atenção; Helen Hunt foi resgatada ao buraco da insignificância para fazer de si própria (desta vez com menos roupa); e William H. Macy acaba de polir o quadro de forma inevitavelmente capaz como o padre católico mais aprazível do cinema recente.

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23.1.13

00:30 A Hora Negra



Uma coboiada eficiente que, em jeito de documento histórico apressado (estreou meros dezanove meses após o acontecimento que pretende retratar) cumpre o objetivo de proporcionar o final "feliz" exigido por um país desesperado pela digestão do 11 de Setembro, deixando bem claro quem eram os bons e os maus da história. É a exposição possível de um ato de vingança épica cujo secretismo e cujas inúmeras incoerências e espaços em branco saem mais favorecidos num retrato ficcionado. A meia hora final não precisava de uma justificação de duas horas. E The Hurt Locker era mais filme e menos propaganda. 

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