27.3.12

Coriolano



Eu e o Shakespeare somos assim (aquele gesto com os dedos juntos). O que só prova que sou um gajo da cultura a sério. Claro que conhecia bem a tragédia do desgraçado general Coriolano muito antes de ver o filme. Vi-a para aí trinta vezes. Dez delas em inglês e duas ou três em línguas mortas. Nem sequer conto com aquela representação em fantoches que misturava o Coriolano com o Tito Andrónico. Isto pode ser verdade ou não. Não interessa. O que interessa é que é simpático que haja pessoas a adaptar Shakespeare ao cinema e a fazê-lo bem e sem se limitarem a filmar uma peça de teatro. Mesmo que seja o Voldemort. E que o faça em sociedade com o rei de Esparta.

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24.3.12

A Mulher de Negro


A maior dificuldade ao ver "A Mulher de Negro" será escapar à distração de achar o protagonista parecido com um Harry Potter vestido de senhor sério e crescido. Fora isso, louve-se o esforço de quem se presta a fazer um filme de terror de época como já não se fazem muitos, seguindo uma receita testada à exaustão e com eficiência mais que comprovada. Nem sequer é difícil, mesmo com a responsabilidade de não envergonhar o rótulo lendário da Hammer. Uma casa abandonada em localização ameaçadora (com o inevitável cemitério no quintal), uma povoação remota cujos habitantes são assolados por um mal de que nem ousam falar e uma assombração vingativa cujo sexo e preferência cromática não serão aqui referidos para não estragar a surpresa a quem prefere ver filmes sem nunca olhar para o título respetivo. Daniel Radcliffe faz pela vida, tentando acumular papéis que o livrem do fim abrupto de outros atores celebrizados por uma única personagem (olá, Mark Hamill) e não se sai mal como viúvo jovem atormentado pela morte durante o parto da mãe do seu único filho. Só não é mais convincente, mesmo com o sempre polido Ciarán Hinds ao lado, porque não paramos de o imaginar a tirar os óculos e a varinha do bolso. Mas a culpa não será sua. Nós é que precisamos de distanciamento.

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14.3.12

Vergonha



Nada melhor para retomar o contacto após quatro meses de balanço (leia-se: de rapto por um bando de mujahedines cinematográficos que não me perdoou ter odiado o "Avatar") do que falar de um filme chamado "Vergonha". Michael Fassbender (pausa para acomodar suspiros do público feminino e de parte do público masculino) é incómodo e doloroso como Brandon, um tipo simpático devastado pela força irreprimível dos seus desejos mais baixos. Mas isto no melhor sentido possível. Porque uma das vantagens do cinema será permitir-nos usufruir do sofrimento alheio sem sentimentos de culpa, criaturas sádicas e reles que por vezes somos. E que já éramos com "Hunger", o filme anterior, igualmente incómodo e doloroso, de Steve McQueen, realizador inglês que terá muito pouco a ver com esse Steve McQueen em que estão a pensar. Não é o filme ideal para ver com aquela tia da Opus Dei que se queixa de não ir ao cinema há anos e é muito mais do que apenas "aquele filme em que o Michael Fassbender expõe abundantemente a sua... bom... a sua vergonha".

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