19.2.13

Bestas do Sul Selvagem

Surpreende pela forma hábil como consegue tocar as cordas certas, sobretudo por se tratar do primeiro filme do realizador Benh Zeitlin e por contar com desempenhos de atores igualmente estreantes. Mas é difícil encontrar ali algo mais do que talento para trabalhar a forma, com o conteúdo sendo remetido para segundo plano. Por baixo da carapaça sentimental erigida com perfeito conhecimento e descontando uma mensagem ecologista demasiado superficial para ser levada a sério, veem-se os créditos rolar com uma sensação vagamente desagradável de que, desde o primeiro momento, nunca houve grande substância. O onirismo é um artifício válido, mas quando se usa para cobrir falhas, torna-se desonesto.

Classificação: 

16.2.13

Hitchcock

Triste sina a de quem tenta retratar um dos maiores realizadores de sempre e apenas consegue um filme de que se poderá dizer com justiça que não envergonha ninguém e se vê sem amarguras. Anthony Hopkins faz boa figura, ajudado pela maquilhagem, mas sem deixar que a maior parte do mérito seja prostético, e Scarlett Johansson é o arraial de boquinhas e carinhas do costume, tão inócuo como quase sempre. Retratando a produção algo atribulada de Psico, o maior resultado do filme de Sacha Gervasi é dar vontade de ir a correr ver o original. E isso valerá alguma coisa.

Classificação: 

11.2.13

O "Mentor"


Este filme não é sobre a cientologia e a personagem de Philip Seymour Hoffman não pretende ser o seu fundador, L. Ron Hubbard. Quem entender discordar da afirmação anterior, arrisca-se a merecer o processo judicial multimilionário a que Paul Thomas Anderson escapou de forma algo milagrosa e, possivelmente, depois de exercer enorme tato junto das altas individualidades hollywoodeiras que pertencem à Igreja. Hoffman e Phoenix partilham entre si a maior parte da responsabilidade de honrar o argumento e a realização de Anderson (e fazem-no muito bem) e Amy Adams volta a revelar a versatilidade discreta a que poucos darão crédito, talvez por acharem difícil levar a sério quem já foi uma princesa da Disney (mesmo nos moldes muito peculiares de Enchanted). Os distribuidores portugueses terão tido motivos fortes para não se limitarem a traduzir o único substantivo do título original, perdendo assim os múltiplos sentidos tanto da palavra "master" como de "mestre", mas não se percebe quais possam ter sido.

Classificação: 

1.2.13

Lincoln


Confirmação de algumas coisas que já se sabiam. Por um lado, que Daniel Day-Lewis é o melhor ator vivo do mundo cinematográfico anglo-saxónico, sendo amplamente merecedor de qualquer prémio que entendam atirar-lhe para cima, mas sem precisar realmente de ainda mais reconhecimento para justificar o estatuto que ninguém lhe tira. Por outro, que Steven Spielberg é um realizador versátil e capaz de usar tudo o que foi acumulando numa longa e quase sempre meritória carreira para construir filmes competentes em qualquer género. Muitas cenas de interior, pouca vontade de atingir um tom épico patriótico e uma opção que se saúda por retratar um momento específico na vida da personagem principal sem fazer um biopic do nascimento à morte.

Classificação: 
 

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