Houve um dia em que me obriguei a jurar que não voltaria a deixar que coisas lidas na imprensa me aborrecessem. Pouco depois, porque não estava a conseguir cumprir a promessa, deixei de comprar jornais e revistas. Até hoje, não lhes sinto a falta. Mas estão sempre a aparecer-me à frente, tentando seduzir-me com o toque aveludado das suas páginas, com o cheiro apetecível da tinta e, porque a carne é fraca, lá vou tendo recaídas. Em recaída recente, abri um diário daqueles que podem ser lidos à vontade na Culturgest sem receio de olhares mete-nojo (o único que sobrevive nessa categoria; acrescente-se que não o fiz na Culturgest, mas num sítio muito menos armante). Avanço até às páginas da "cultura" e, com afoiteza, ponho-me a ler a opinião de um daqueles sujeitos pagos pelos jornais para ver filmes e que parecem fazê-lo com grande sacrifício, pois só gostam de um em oitenta. Dizia o sujeito em questão que Inception, último filme de Christopher Nolan, era visualmente enfadonho. E também avesso a qualquer noção de estilo, desinteressante e banal. E fazia questão de referir que o filme era isto e aquilo, apesar de ter rebentado o tomatómetro. Aos leitores que não soubessem o que era isto do "tomatómetro", recomendava-se que procurassem o site Rotten Tomatoes e descobrissem sozinhos. Eu não sou tão cruel e explico que o tomatómetro é o nome traduzido para português do sistema de classificação de filmes do site em questão, que atribui uma percentagem de "frescura tomatal" obtida a partir da média de classificações de críticos de todo o mundo, a maior parte deles uns valentes parvos porque contribuiram para inflar a frescura de um filme tão "banal" e "enfadonho". Ora eu cá não sou ninguém. Não sou crítico, não assino com três nomes e não leio o Village Voice. Mas convido a maltinha a ir ao cinema tirar as teimas e decidir quem tem razão: eu e o tomatómetro ou o enjoadinho do jornal. Pronto, já me passou.
Com: Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt e Marion Cotillard
Ano: 2010
Classificação:
Inception
De: Christopher Nolan
Origem:
Ano: 2010
6 comentários:
Já vi muito filme na minha vida.
Muito mesmo. Se calhar até demais.
E este foi um dos melhores que vi até hoje.
Perdoem-me a alusão pseudo-poética e lamechas: mas, nesta sociedade actual, onde o senso comum parece ser um alvo a abater, o facto de este filme estar a ter este tipo de recepção só indica que estamos mesmo a perder a capacidade de sonhar.
Porra... estou mesmo a ficar doente. :P
:D
Não vi o filme ainda, mas este texto está daqui...
*abanãozito na orelha direita*
É que eu agora só escrevo para Sr. Duarte.
Olha, eu fiquei desiludida.
Não percebo qual a complexidade emocional do filme.
Vê-se bem, mas não trás nada de novo. Além de achar que vai buscar muito a Matrix, e que a miúda que faz de arquitecta não está ali a fazer nada...
Ai que o Y já fez mais uma vítima. É preciso cuidado com o papel que traZemos para casa.
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