Depois de ter feito filmes com algum interesse (por exemplo: Three Kings, I Heart Huckabees ou The Fighter), David O. Russell parece ter descoberto um gosto especial pela chochice, rendendo-se a ela sem resistência visível. Silver Linings Playbook era um filme que se via bem e não passava muito disso, mutilado por uma chochice incurável imposta pelo enredo e que nenhum dos desempenhos competentes dos atores conseguiu minorar, sendo (talvez por isso mesmo?) louvado até à exaustão como um dos melhores do ano.
Golpada Americana, noutro género e num tom muito diferente, é um filme igualmente chocho. Talvez mais ainda porque a chochice se torna mais grave num filme sobre vigaristas da era do Disco do que numa história de redenção amorosa entre doentinhos da cabeça. Algo de muito grave se passará no cinema quando um realizador acredita que está a pôr no ecrã uma história cheia de ramificações sinuosas, com personagens complexas e multidimensionais, e o resultado final acaba por saber a requentado.
Duas horas depois do início da Golpada, olhamos para os cento e vinte e tal minutos de vida que lhe dedicámos e refletimos. A história do casal de vigaristas dotados para a vigarice, do polícia demasiado ambicioso e do político corrupto, nos moldes em que nos é apresentada, poderia ser espremida com jeito e daria sumo suficiente para encher com conteúdo válido meia hora de um episódio televisivo. Ou poderia ter sido mastigada de outra forma (possivelmente por outro realizador) e ter sido um excelente filme.Quanto ao resto, há o esforço do realizador para mostrar um virtuosismo que lhe escapa e há os esforços dos atores para fazerem o melhor que podem enquanto vão piscando o olho a galardões. Amy Adams e Bradley Cooper vão bem, Christian Bale não vai mal, Jeremy Renner faz o que pode com o que tem (não é muito) e Jennifer Lawrence não faz praticamente nada. E também não precisa porque o mundo parece mais que disposto a premiar pela banalidade uma atriz muito promissora, tentando assegurar que se manterá banal durante o resto da carreira. Esperamos que não deixe.
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